um artista da fome. franz KAFKA. paulo lages

Nas últimas décadas o interesse pelos artistas da fome decaiu imenso. Se antes era um bom negócio promover, por conta própria, grandes apresentações desse género, hoje isso é completamente impossível. Os tempos eram outros. Antigamente toda a cidade se dedicava ao artista da fome; a participação aumentava a cada dia de jejum; todos queriam ver o artista da fome pelo menos uma vez por dia; nos últimos, os que tinham tirado assinatura ficavam sentados o dia inteiro diante da pequena jaula; também de noite havia visitas, e o efeito era intensificado pela luz das tochas; nos dias de bom tempo, a jaula era trazida ao ar livre e o artista da fome mostrado especialmente às crianças. Embora para os adultos ele não passasse de um divertimento, em que tomavam parte por uma questão de moda, já as crianças olhavam com assombro, boquiabertas, cada uma dando a mão à outra para maior segurança, aquele homem pálido, de malha escura, costelas extremamente salientes (...)